Nathália Tereza
         



Leão de Ouro

(2020)



Fui de carona por aplicativo até Goiana, onde esperei por cerca de uma hora a chegada de Edilson. Eu não sabia exatamente como ele iria me encontrar. Pensei que eu poderia ter ido sozinha de van até Condado, mas ele fez questão de me buscar. 


Trabalhei com Edilson no curta "De tanto olhar o céu gastei meus olhos", onde nos tornamos amigos. A relação entre diretora e ator pode ser caótica ou fascinante. Tivemos sorte. Já havia tempo que eu queria conhecer a cidade de Edilson. E como eu estava morando em Recife, era a minha melhor chance.

Edilson é integrante do Maracatu de Baque Solto Leão de Ouro. Um ensaio aberto aconteceu na noite que eu estava lá. As fotos abaixo não mostram as roupas, tão bonitas e pesadas, pelas quais o Maracatu rural é conhecido. Elas ainda estavam sendo confeccionadas. Trata-se de uma sambada, com as camisas coloridas e os pedaços de pau:

"Os movimentos dos cablocos no contexto de uma sambada geralmente são três: defesa, simulação e ataque (não necessariamente nesta ordem). Um caboco vai se aproximando do outro, como quem vai, mas não vai, fazendo o chamado pantim, e o outro, ao perceber a aproximação, responde com uma espera também cheia de movimentos e insinuações. Os movimentos variam nesse sentido, dando a contínua impressão de uma briga iminente, e o diálogo se perpetua até que alguém cesse ou que um deles tente acertar o outro com seu porrete." (Noshua Amoras de Morais e Silva).

Edilson me levou direto para a sede do Leão de Ouro. Quando chegamos, alguns homens estavam sentados na mesa comprida, bordando lantejoula. Fiquei de pé e reconheci o lugar, dando uma olhada, com calma, nas bandeiras.  Eles me contam que foi Edilson quem fez a maioria. Me contam muita coisa dele com orgulho. Sentir orgulho e admiração por alguém, é um dos sentimentos mais bonitos que existe. O reconhecimento do outro.

Sento-me à mesa enquanto Edilson continua nos preparativos para a noite: montar barraca, o equipamento de som, etc. Ele não se preocupa comigo e gosto disso, ele sabe que eu sei me virar. Não vou me recordar o nome de todos, mas a conversa foi dominada por Dadá, Diego, Bill do Rato e Paulo. Conversa vai, conversa vem e todos nós já estávamos à vontade dando risada.

Dadá me conta de sua vida, que quis ser jogador de bola profissional e desistiu. Já bebeu muito, foi salvo pelo Maracatu. Percebi que não vi entrar uma mulher. É um local de homens. E como nos grupos de bboys que frequentei durante uma época, eles são uma família. Não demora muito para Diego dizer que aquele espaço é sua segunda casa. E diz isso de uma maneira muito profunda, que agora, pela memória, não consigo reproduzir, mas essa fala não foi feita só pela minha presença, mas pela beleza de poder se dizer para o grupo, em voz alta. E talvez seja isso que ficou guardado para mim, desse dia em Condado: o quanto esses homens se amam.